Artigo elaborado em 10/02/2002
Fonte: Professora Maria Beatriz Domingos Cunha
Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Uberaba, Minas Gerais
De todos os julgamentos que acontecem na vida – e são incontáveis – nenhum é tão significativo e definitivo quanto aquele que fazemos a nosso próprio respeito. Este julgamento é denominado de autoestima.
Vivemos hoje num momento em que se faz necessária a renovação de valores em toda a sociedade e para que eles surjam é preciso que o ser humano seja analisado de forma integral, visando aos aspectos biológicos, psíquicos, sociais e espirituais, conforme preconizam as ciências holísticas, como a psicologia transpessoal, a medicina holística, dentre outras.
Somente uma ciência que prioriza o homem como sendo um ser em busca do crescimento espiritual poderá ser instrumento dessa mudança de axiomas, onde o amor e o respeito despertarão essa criatura para uma visão ética de vida, tão necessária à sobrevivência.
O crescente desenvolvimento tecnológico e econômico desta época exige sujeitos competentes, com um claro senso de identidade e valor. Diante da falta de modelos de papéis dignos, da transformaçãocultural, das turbulências que são as imagens permanentes de nossa vida, é duvidoso não saber, no auge de nossa história, quem somos, deixando a confiança em nós mesmos bem distante.
Sabemos que a estabilidade, a segurança, a felicidade não se encontram no mundo, mas poderão ser criadas dentro de cada um. “Enfrentar a vida com baixa autoestima é estar em séria desvantagem.”
Segundo Branden (2000), “ao trabalhar com a autoestima, deve-se estar atento a dois perigos. Um deles é simplificar demais o que a autoestima saudável exige e, assim, satisfazer a ânsia que as pessoas têm de arranjos rápidos e soluções fáceis; o outro é render-se a uma espécie de fatalismo ou determinismo, que de fato presume que os indivíduos ou têm boa estima, ou não têm, que o destino de todos está traçado desde os primórdios da vida, não havendo nenhuma saída (exceto, talvez, anos ou dezenas de psicoterapia). Ambas as visões encorajam a passividade e obstruem nossa visão do que é possível.”
Na verdade, a maioria das pessoas subestima sua força de mudança e crescimento. Acreditam em modelos próprios e seguem receitas (“o padrão de ontem tem de ser o de amanhã”) e, assim, a crença de que são impotentes torna-se uma realidade.
O Instituto Brasileiro de Plenitude Humana, por meio do Núcleo de Estudos Científicos, diz que, para se construir uma autoestima elevada, é preciso conhecer algumas práticas essenciais que visam à reflexão e posterior mudança interna.
1. A prática de viver conscientemente:
Participar intensamente daquilo que fazemos enquanto o fazemos; por exemplo, se nosso filho, aluno, funcionário, mãe, pai, colega e/ou qualquer outra pessoa está falando conosco, ouvi-lo(a) atentamente durante o encontro. Buscar e estar totalmente aberto a qualquer informação,
conhecimento ou feedback que afirme nossos interesses, valores, metas e plano. Compreender não apenas o mundo a nossa volta, mas também o nosso mundo interior.
2. A prática da autoaceitação:
É a disposição de admitir, experimentar e assumir a responsabilidade por nossos pensamentos, sentimentos e ações, sem fugir, negar ou refutar, e sem se repudiar, permitindo-nos avaliar nossos conceitos, vivenciar nossas emoções e analisar nossas ações sem necessariamente apreciá-las, aprová-las ou justificá-las. A aceitação do eu como ele é evitará que nos comportemos como se estivéssemos sendo julgados; desse modo, não estaremos sempre na defensiva e conseguiremos ouvir críticas ou idéias diferentes sem nos tornarmos hostis ou competitivos.
3. A prática do senso de responsabilidade:
O senso de responsabilidade consiste em perceber que somos os autores de nossas escolhas e ações; que cada um de nós é responsável pela própria vida, pelo próprio bem-estar e pela realização de nossas metas; que, se precisarmos da cooperação de outras pessoas para atingir
nossos objetivos, devemos oferecer um valor em troca; e que a pergunta não é “De quem é a culpa?”, mas sempre “O que precisa ser feito?”.
4. A prática de autoafirmação:
Afirmar a si mesmo significa ser autêntico nas relações interpessoais; respeitar os próprios valores e as outras pessoas em contextos sociais; recusar-se a camuflar a realidade de quem somos ou do que gostamos para evitar a desaprovação do outro; é estar disposto a defender a si
mesmo e suas idéias de maneira apropriada em circunstâncias apropriadas.
5. A prática de viver objetivamente:
Consiste em estabelecer nossos objetivos ou planos de curto e longo prazo e as providências necessárias para concretizá-los, organizar o comportamento em função desses objetivos, monitorar as ações para garantir que está no caminho certo e prestar atenção ao resultado para
saber se precisaremos voltar à estaca zero e quando teremos de fazê-lo.
6. A prática da integridade pessoal:
É como viver coerentemente com nossos conhecimentos, palavras e atos; é dizer a verdade, honrar nossos compromissos e servir de exemplo dos valores que declaramos admirar; é tratar os outros de maneira justa e benevolente. Quando traímos nossos valores, traímos nossas
próprias mentes e a autoestima é, inevitavelmente, prejudicada.
Assim como o cálcio é importante para uma boa saúde física, a autoestima é uma necessidade humana fundamental que mantém a saúde mental.
Pode-se afirmar que a ausência da autoestima prejudica a capacidade de funcionamento do corpo e, às vezes, pode resultar em morte; por exemplo, quando o indivíduo usa drogas compulsivamente, participa de cenas vandalísticas entre gangues, estabelece uma relação com uma pessoa mortalmente violenta ou suicida.
Uma autoestima adequada depende de vários fatores, como o temperamento inato, as experiências vivenciadas, tanto positivas quanto negativas, e as influências do meio ambiente; porém, os pais e os professores são os principais responsáveis para que as crianças e os jovens tenham um bom conceito sobre si mesmos.
“A autoestima é formada por fatores internos e externos. Por ‘internos’, refiro-me aos fatores que residem dentro do indivíduo, ou são gerados por ideias, crenças, práticas, comportamentos. ‘Externos’ são os fatores do meio ambiente: mensagens verbais que não são transmitidas e as experiências produzidas pelos pais, pelos professores e pelas pessoas significativas, pelas organizações e pela cultura”. (Branden, 2000).
Ressaltamos que um dos principais objetivos da educação exercida pelos pais é preparar os filhos para uma sobrevivência independente na vida adulta, pautada no amor, no respeito mútuo, na solidariedade.
Para isso, as crianças necessitam de limites, de valores e critérios racionais para que a autoestima possa ser consolidada; em resumo: AMOR, ACEITAÇÃO, RESPEITO, VISIBILIDADE são palavraschave para nutrir a autoestima, cuja formação moral, ética e espiritual é de responsabilidade de seus genitores.
Necessitam, ainda, de uma boa estrutura familiar, com base no diálogo aberto e sincero, no respeito à individualidade de cada membro da família; para que a estimulação à sua autoimagem aconteça, o adulto deve passar do julgamento para o comentário que provoque uma reação; por exemplo, no lugar de lançar a culpa “você é preguiçoso”, você pode dizer: “Eu realmente gostaria que você arrumasse o seu quarto” ou “Sinto-me bem sabendo que você se lembra das regras quando eu não estou!“ Essas reações são mais úteis do que o julgamento típico: “Você é um bom menino.”
Se uma criança entra em casa correndo, alegre e excitada, e a mãe diz sorrindo: “Você está feliz hoje!”; ela vai se sentir visível. Mas se a mãe grita: “É preciso fazer tanto barulho? “Você vai derrubar a casa!”, “Que menino sem educação!.”Essa é uma atitude de invisibilidade no ambiente doméstico dessa criança que, futuramente, poderá refletir no seu desenvolvimento adulto, sentindo-se insegura nos seus relacionamentos”.
Quando é transmitido amor, apreço, empatia, aceitação e respeito, tornam a criança visível, valorizando a sua singularidade.
Como pais, devemos ter sempre em mente que nossos reflexos têm efeito poderoso sobre o avanço do senso de individualidade da criança.
É evidente que não somos os únicos espelhos de nossos filhos. Qualquer pessoa que passe longos períodos com eles afeta a sua autoimagem e uma delas é o professor.
Pesquisas mostram que, antes do aspecto cognitivo, é necessário trabalhar a autoestima.
Fato esse tão implícito nos Quatro Pilares da Educação: “aprender a conhecer, aprender a fazer, “aprender a viver juntos” e “aprender a ser.”“.
“Os professores com elevada autoestima estão mais aptos a ajudar as crianças a desenvolverem estratégias de resolução de problemas, em vez de aconselhá-las ou negar a importância do que elas percebem como problemas. Tais professores constroem um senso de confiança em seus alunos. Baseiam o controle da classe na compreensão, na cooperação recíproca e no envolvimento de todos, resolvendo os problemas através do carinho e do respeito mútuos. Esse relacionamento positivo permite que as crianças aprendam a desenvolver a confiança e a capacidade de agir independentemente.” (Reasoner, 2000).
Às vezes, as crianças não têm total consciência de seus valores é aí que entra o trabalho do professor de facilitar essa percepção, sem que haja a presença de falsos elogios. Toda criança faz bem algumas coisas, portanto têm seus pontos fortes, os quais precisam ser encontrados, identificados e incentivados.
Imagine como é estar em uma sala de aula em que, para o educador, nada é mais importante que descobrir o que o outro tem de melhor - seus pontos fortes e suas virtudes – e ajudá-lo a descobrir e conscientizá-lo disso.
Dentre todos os grupos profissionais são os professores que têm demonstrado mais receptividade para a importância da autoestima e a grande maioria deles quer dar sua contribuição positiva às mentes confiadas a seus cuidados.
Assim, para desenvolver a autoestima na escola é preciso paciência, perseverança e projetos que se completem, pois estímulos de autoajuda se perdem ao longo do tempo.
Diante do mandamento conhecido por todos nós “ama ao teu próximo com a ti mesmo”, o filósofo Eric Hoffer observa que o problema é que as pessoas fazem exatamente o contrário disso: elas odeiam os outros como odeiam a si mesmas; a exemplo: os criminosos deste mundo, no sentido literal e figurado, não são pessoas que mantêm um relacionamento íntimo e afetivo com seu interior.
Assim, urge que haja a valorização da autoimagem, do aprender a gostar de si mesmo e, conseqüentemente, o outro se beneficiará.
Urge, ainda, que não se adie mais nenhum encontro consigo mesmo para o surgimento de um novo homem: solidário, amável, íntegro, capaz e confiante.
Educar, portanto, visando ao fortalecimento da autoestima, é um convite a todos os homens sensíveis aos problemas sociais, morais e que buscam alternativas que justifiquem o estar na vida.
BIBLIOGRAFIA
BRANDEN, Nathaniel. Autoestima e os seus pilares
BRIGGS, CORKILLE. Autoestima do seu filho
Pesquisa de Internet-Site: http//orbita.starmedia.com
Maria Beatriz Domingos Cunha.
Graduação em Português/Inglês
Especialização em Leitura e Produção de Textos.
Especialização em Educação em Valores Humanos
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